Pensamentos após muitas noites de insônia

agosto 29, 2022

Não lembro que horas acordei esta manhã, só sabia que era cedo para caralho. E, mais uma vez, muito antes do meu despertador. Eu tinha fechado os olhos mais ou menos 23h e na hora que o sono simplesmente me abandonou evitei olhar as horas. Fiquei virando e mexendo, na esperança de achar alguma posição milagrosa que me fizesse voltar a dormir. Observei meu quarto na total escuridão - nem a luz da Lua iluminava algo. Observei o corredor, com a luz da cozinha acesa. Aquela luz sempre ficava acessa para "enganarmos os bandidos". Então olhei para cima, tentando visualizar o teto com o ventilador ligado. 

Pensamentos vieram. "E se eu levantar?"; "E se eu abrir aquele vinho na geladeira e beber até sentir sono?"; "E se eu tomasse um remédio para dormir?"; "E se...".

Muitos questionamentos até eu me lembrar que era só mais uma noite de insônia. Mais uma das incontáveis noites em claro que tive nos últimos meses. 

E mais uma das muitas que virão por aí.

Imagem: Giphy


Não lembro que horas acordei esta manhã, só sabia que era cedo para caralho. E, mais uma vez, muito antes do meu despertador. Eu tinha fechado os olhos mais ou menos 23h e na hora que o sono simplesmente me abandonou evitei olhar as horas. Fiquei virando e mexendo, na esperança de achar alguma posição milagrosa que me fizesse voltar a dormir. Observei meu quarto na total escuridão - nem a luz da Lua iluminava algo. Observei o corredor, com a luz da cozinha acesa. Aquela luz sempre ficava acessa para "enganarmos os bandidos". Então olhei para cima, tentando visualizar o teto com o ventilador ligado. 

Pensamentos vieram. "E se eu levantar?"; "E se eu abrir aquele vinho na geladeira e beber até sentir sono?"; "E se eu tomasse um remédio para dormir?"; "E se...".

Muitos questionamentos até eu me lembrar que era só mais uma noite de insônia. Mais uma das incontáveis noites em claro que tive nos últimos meses. 

E mais uma das muitas que virão por aí.

Imagem: Giphy


 E eu corri, mais uma vez. Corri do sentimento, corri da vontade, corri do incerto. Corri do lobo que queria me mostrar algo que eu acreditei que não merecia naquela época. Fiquei com medo, pensando que seria mais uma pessoa pronta para me abandonar e te deixei sem resposta, apenas lá.

Depois de tanto afastar todos os que se aproximam por bem, mas confiar em quem tem intenções duvidosas, a gente vai aprendendo e amadurecendo aos poucos. É estranho pensar em como as coisas poderiam ser diferentes em dois anos. Se eu não tivesse aquele medo, aquela insegurança e fosse honesta contigo, as coisas entre nós seriam muito diferentes.

O lobo tentou me ajudar no meu pior momento. Ele queria juntar os pedaços despedaçados no chão que nem sabia que estavam lá. Tentou dar uma visão mais clara para a garota receosa que havia perdido a visão meses atrás e que, logo em seguida, derramou seu coração para alguém que não a merecia e a abandonou em questão de minutos.

Dois anos depois e eu me lembro de cada conversa, cada brincadeira, cada música – “Call Me, Call Me” ainda está nas mais ouvidas do meu Spotify –, de cada imagem engraçada que mandamos pois lembramos um do outro... Isso tudo significa muito para mim. Significa o mesmo para você?

Eu errei contigo, meu lobo. E é um dos meus maiores arrependimentos. Nem tenho coragem de dizer que sinto muito na sua frente. Talvez eu esteja escrevendo na esperança que você vai ler este texto e aceite minhas desculpas por ter te deixado observando a lua tendo uma esperança pois eu costumava flertar contigo.

Hoje eu percebo que, na verdade, eu não me importaria em viver correndo como a Julia, se meu destino final fosse feliz ao seu lado, diferente do final que ela teve com Spike. Ou, talvez, nosso final seja ficarmos separados.

Imagem: Pinterest

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

E eu corri

 E eu corri, mais uma vez. Corri do sentimento, corri da vontade, corri do incerto. Corri do lobo que queria me mostrar algo que eu acredite...

 Coloquei aquele último saquinho de chá daquele sabor que me lembra você. Morango, mirtilo, canela, pimenta, chá verde e hibisco. Ou como em nossas conversas, "morango, mirtilo e muita coisa". Eles me fizeram pensar em tudo o que passamos para, no final, não ser nada. Das noites divertidas, dos flertes indiscretos, das piadas ruins... As coisas que estão somente em minha memória agora. Confesso que às vezes me pergunto como você está, se está tudo bem, se você lembra de nossos momentos, se você sente saudades. Mas se eu não mandei mensagem enquanto você estava invadindo meus sonhos na semana do dia dos namorados, é pouco provável que vou mandar mensagem agora. E tem tanta coisa que eu gostaria de te falar... Descobri que tem mirtilos na loja de temperos da esquina da minha casa. Descobri muitos vinhos que provavelmente nunca beberemos juntos. Meu conto vai ser publicado em breve. Tive COVID. Quebrei meu dedo mindinho do pé enquanto alongava no pole dance. Mudei a cor do meu cabelo. Conheci umas gelaterias e cafeterias muito legais perto do meu serviço. Descobri um novo jogo e queria jogar contigo. Estou bem.

Mas você não quer saber. Se quisesse, estaria aqui.

Imagem: Tumblr


 Eu amo a forma que seus olhos acinzentados brilham quando você me conta sobre suas paixões. Eu amo quando você ri das minhas piadas ruins e sem graça, pois sua risada é maravilhosa. Amo o fato de que você me dá segurança em todos os momentos. Amo quando você me trata como uma rainha em todos os nossos momentos juntos, sozinhos ou acompanhados. Amo o fato que você tem paciência quando eu não estou no meu melhor momento. Amo o fato que confiamos um no outro as pequenas e grandes coisas que acontecem em nossas vidas. Amo quando saímos e você abre a porta do seu carro para mim. Amo nossos jantares sob a luz da lua em sua cobertura. Amo quando seus cabelos negros estão presos quando você cozinha e eu fico na ponta dos pés tentando soltá-los enquanto te ajudo. Amo quando você dorme em meu colo enquanto faço carinho em seus cabelos. Amo quando ficamos conversando na banheira enquanto tomamos vinho ou uísque. Amo planejar viagens com você, descobrir todos os pontos turísticos e novas culturas. 

Amo quando você me beija e é como se nada mais importasse. Amo quando estamos nos divertimos com nossos amigos. Amo quando fazemos planos do futuro, mesmo sabendo que amanhã eles provavelmente serão refeitos por algo melhor. Amo sua ambição em sempre crescer profissionalmente e pessoalmente. Amo que você não se esconde quando algo dá errado. Amo o fato que parece que você foi feito para mim e eu fui feita para você. Amo o fato de que você presta atenção em todos os meus detalhes não só físicos, mas também em meus medos, meus sonhos e meus desejos. Amo o fato de que você me acorda de manhã sempre com um sorriso no rosto e me levanta para caminharmos juntos no parque de frente ao seu apartamento. Amo quando você dá sua opinião de tudo o que eu escrevo. Amo quando você conta para mim todas as suas histórias e me mostra todas suas camadas. Amo quando dançamos ao som de alguma música, ao som da chuva ou de nenhuma música.

E o mais importante: amo que a forma que eu te amo é a forma que você me ama.


Imagem: Tenor

 


Olhei para o espelho que ficava do outro lado, perto da porta. Meus cabelos loiros extremamente claros por conta da descoloração e lisos – danos emocionais conseguem machucar até vampiros – estavam um pouco abaixo dos meus seios, meus olhos azuis – obrigada disfarce – estavam normais, sem sinais de cansaço ou olheira. Já meu vestido preto estava em ordem, como se eu tivesse passado ele hoje de manhã. Só vesti ele pois estava incerta se iria comprar mais bebida no bar do Jaiminho – um vampiro que resolveu ficar na paz nesta cidade.

– Estou bonita para cometer um assassinato? – Sussurrei e meu irmão riu.

– Espero que você consiga descobrir alguma coisa.

Mesmo que no histórico da família eu sempre fosse a melhor em luta e em combate, é natural que os irmãos se preocupem uns com os outros. Sorri quando ele desaparecer e caminhei até a porta quando a campainha tocou.

Abri a porta com a maior naturalidade segurando minha taça de vinho e encarei os dois homens. Um deles era mais velho, com a barba por fazer e traços marcantes. Sua camisa vermelha destacava em sua pele negra e em sua barba por fazer. Sua postura me aparentou confiança, o que me fez suspeitar que ele foi transformado cerca de um ano atrás.

Já o outro jovem parecia um calouro que encontrei uma vez quando fiz faculdade de Direito – roupa social, cabelos loiros repletos de gel e extremamente nervoso. 

– Não sabia que eu teria companhia para um vinho. – Disse com um ar de inocência – Quem são vocês?

– Eu sou Estevão e este é Ric.... – O mais novo se apressou enquanto o mais velho o empurrou para trás.

– Você é Karina Vanderbloom? – Ele respondeu.

– Perguntei primeiro. – Rebati.

Dei um passo para dentro. A regra de não entrar sem ser convidado é bem clara, mesmo que alguns vampiros tenham a capacidade de burlar a regra com seus poderes.

Enquanto os dois discutiam, fui mais rápida. Utilizei minha velocidade para retirar a faca da mesa e cortei a garganta do homem mais velho. Se tem alguém que vai falar é Estevão, já que ele deixou escapar os nomes.

O corpo do mais velho caiu, fazendo um barulho pequeno. Utilizei meus poderes para projetar uma névoa, evitando que as outras pessoas não ouvissem nada, não entrassem no prédio ou saíssem de seus apartamentos.

– Escute Estevão. – Falei, colocando-o contra a parede e pressionando a faca em seu coração – Posso fazer isso do jeito mais lento ou do mais rápido, como foi com seu amigo. Quem te mandou aqui? Onde ela está?

– Eu não vou falar. – Ele disse e eu coloquei a faca em seu coração, fazendo-o gritar de dor enquanto, com a outra mão, tomava o vinho da minha taça em apenas um gole – Ela disse que você era fraca.

– Eu consegui matar mais de cinquenta piratas em um navio no meio de uma tempestade quando era humana. – Respondi, olhando em seus olhos castanhos e girando a faca – Eu pareço fraca para você?

– N-N-Não, senhora. – A voz dele falhou – O nome dela é Anne. Ela está em Paris agora.

– Vocês saíram da França para uma cidade no interior do Brasil para me matar? Ou melhor, tentar me matar? – Esbravejei.

– Somos de Portugal. – Ele explicou – Ela nos prometeu novos empregos e nos transformou. Não fomos treinados.

Era só o que me faltava. Além de mandar novatos, ela nem se deu ao trabalho de treinar novatos.

Minha reputação está tão ruim assim?

Retirei a faca do coração de Estevão e cortei seu pescoço rapidamente, de tamanha raiva que eu estava sentindo. Não estou há mais de 300 anos sendo uma das vampiras originais mais poderosas para ser tratada assim.

Voltei para o apartamento, deixando a faca e a taça na mesa. Em seguida, peguei os dois corpos e corri para a mata densa, deixando os corpos lá. Voltei para o meu apartamento e peguei álcool. 

Hora de esconder evidências.

Observei os corpos no chão e derramei todo o conteúdo do álcool neles, para que o fogo se espalhe mais rápido. Ouvi o barulho de um telefone no bolso de Estevão, que me chamou atenção e peguei o aparelho. No visor estava escrito “Chefe”.

– E aí, vocês a mataram? – A voz da mulher era estranhamente familiar. Ela estava impaciente, como se quisesse ouvir a “boa notícia” em alguns minutos – Vamos, eu não tenho o dia todo.

– Infelizmente eles não podem atender. – Respondi, suavemente enquanto pegava o meu isqueiro em meu sutiã – Aconteceu uma coisa muito trágica com eles, Anne. Sim, eu sei o seu nome. – Acendi a chama próximo ao telefone, para que ela ouvisse.

– Você os matou? Como? – Ela perguntou, como se fosse impossível.

– Você deve ser nova nessa coisa de vampiros, então deixa eu te explicar. – Joguei o isqueiro nos corpos e os observei queimar – Mandar dois novatos para matar uma vampira original é uma ofensa. Você realmente achou que dois caras que não sabem nem como usar seus poderes iam conseguir me matar? Eu, que sei boa parte das lutas do mundo todo e aprendi a lidar com meus poderes faz mais de 300 anos? Realmente, acho que minha reputação vai mal para as pessoas tirarem essas conclusões. – Ri com a situação – Da próxima vez venha você fazer o seu trabalho, que talvez a situação seja diferente. Eu acredito que não, mas pelo menos podemos tomar um vinho antes de você morrer. Au revoir, mademoiselle Anne.

Desliguei o telefone e o destrocei com minha mão, antes de jogá-lo no fogo.

Olhei para cima, observando a densidão da floresta. Se a minha intuição estiver certa, este foi só o começo.

 Nota: Olá! Esta é a segunda parte do conto que faz parte do projeto Um mês, um conto (acompanhe no instagram aqui) que consiste em escrever um conto sobre um determinado gênero em um mês (leia outros contos do projeto aqui). Confesso para vocês que eu ainda não tive tempo para ler os comentários e peço desculpas por isso, assim que possível eu leio e respondo todos vocês. Também digo que tive mais ideias para a história (na verdade, histórias) da Lua e queria saber se vocês leriam também.

Boa leitura para vocês!

Sinopse: Uma pessoa esconde muitos segredos... E Lua sabe muito bem disto, pois esconde até seu nome das pessoas da Vila do Ipê-Amarelo. O que ela não esperava é que muitas coisas podem mudar após uma noite de outono. 


Leia a primeira parte



Dei um gole curto em minha bebida.


– Mas quem te atacaria?


– A pergunta certa é quem não me atacaria. – Ri, bebendo mais um pouco da bebida – Já matei muitas pessoas e já vieram atrás de mim querendo vingança, impressionar alguém ou simplesmente acham que me matar vai melhorar o ego. Lembra quando Dorothy matou aquele caçador sobrenatural? Ou quando Liberty ficou dez meses presa e matou aquele chefe da máfia? E não vamos esquecer de quando Karin assassinou aquele outro empresário que enviava ameaças ou quando Clarisse matou o antigo professor e jogou o corpo no píer de Bournemouth às quatro horas e quarenta e quatro minutos da manhã.


– Você decorou o horário?


– Só quando fico ansiosa com algo. – Comentei rapidamente, tentando pegar o ar como se fosse necessário – As pessoas tem amigos e contatos. E, no caso de vampiros, podem ter ego enorme e desejo por vingança.


– Acho difícil, só se acompanharam você com o passar dos anos e conhecem todos os seus disfarces.


– Tudo é possível nesta cidade. – Dei mais um gole curto – Preciso parar de esbarrar com pessoas erradas.


– É estranho morar no Brasil novamente?


– Nem tanto. – Dei de ombros e mais um gole na bebida – Não sei por quanto tempo vou ficar aqui, só depende do Luther.


Mais um gole longo para não jogar a garrafa na parede. Luther é o motivo de que estou aqui. Quando descobri que ele matou uma jovem que eu havia praticamente adotado, meu plano é matar suas crias uma por uma. E, para minha sorte, sua preciosa família está aqui.


– Você vai mesmo mata-los? – Sol perguntou.


– Não vim aqui para ser médica em uma enfermaria universitária. – Garanti – Queria dar uma vida para Alice, mas ele tirou a vida dela apenas para me atingir e me obrigar a matar mais alguns de seus inimigos, mesmo depois de anos sem trabalhar com ele. – Alice era outro assunto delicado para mim. Tratei aquela criança como minha filha desde quando ela nasceu e a mãe biológica dela a abandonou no hospital. Quando ela completou 19 anos, Luther a matou e me contou isso por meio de um bilhete – Por isso estou saindo com o Tomas, um de seus vampiros. – Caminhei até a cozinha americana calmamente, controlando os meus passos e abri a gaveta, puxando uma faca de corte – Estou apenas aguardando o momento certo para quebrar – Enfiei a faca na mesa de pinheiro que estava na cozinha – o pescoço de sua criação mais velha. E assim que ele chegar para ver o que aconteceu, vai encarar com toda a sua família morta.


Dei uma risada que assustou meu irmão, que encarou a mesa com a faca cravada em seu centro.


– Eu já queria me livrar desta mesa. – Comentei, bebendo o resto do conteúdo da garrafa – Só estava precisando de um bom motivo.


Ele olhou para mim, muito provavelmente questionando a minha sanidade. Como se ele não soubesse que a minha sanidade foi embora quando eu saí do útero.


Sol ia falar, mas estendi o dedo para que ele não falasse nada, pois ouvi uma conversa levemente suspeita atrás da minha porta.


– Você tem certeza que ela está aí? É meu primeiro trabalho, não quero vacilar. – O primeiro homem falou, com uma voz fina. Provavelmente estava nervoso ou era um adolescente – E está com o calmante em mãos?


– Já estou com tudo Estevão. – O outro homem falou firmemente com sua voz mais grossa – É só dar o calmante até ela ficar fraca e acertar o pescoço dela. Aí podemos voltar para a chefe com o troféu.


Já imaginava que minha cabeça tinha um grande valor, mas não imaginei que seria tão valiosa assim. Mas uma coisa me surpreende... A chefe. Geralmente quem quer me matar são os vampiros homens por questão de ego frágil, é a primeira vez que vejo uma mulher querendo me matar. Pelo visto estou ficando cada vez mais popular. E pensei que esta “visita” encontra duas opções: “a chefe” que está atrás de mim não tem força o suficiente para me matar ou estava a fim de se livrar de novatos. Se for como a maior parte das vampiras que eu conheci pelo mundo, a opção mais provável é a segunda. Novatos muitas vezes são um saco, principalmente por conta das suas principais características humanas estarem bem em evidência. Então se como humano a pessoa era impulsiva, como vampiro não vai pensar em nada – só vai agir.


Bom, eu poderia simplesmente ser uma pessoa boazinha e deixa-los ir embora, mas estou estressada. Caminhei até a geladeira branca e peguei o meu Château Margaux de 2014 e abri a garrafa com facilidade, deixando meu irmão com uma cara questionadora. Ele sabe que, caso fosse humana, não teria mais fígado, então o motivo de eu abrir a segunda garrafa da noite em menos de uma hora é por questões de problemas à frente.


– Tem vampiros novatos no corredor querendo minha cabeça. – Olhei para ele, enquanto colocava o vinho em uma taça. Tomei um gole do líquido encorpado com uma cor intensa – E eles mencionaram uma chefe, vou tentar arrancar algumas informações antes de mata-los.

Nota: Olá! Este conto faz parte do projeto Um mês, um conto (acompanhe no instagram aqui) que consiste em escrever um conto sobre um determinado gênero em um mês (leia outros contos do projeto aqui). Tive a ideia para essa história faz um bom tempo, mas nunca cheguei a colocar no papel, eis que resolvi escrever motivada pelo projeto e acabei gostando do resultado. Serão três partes do conto e esta é a primeira delas. Espero que gostem e boa leitura!

Sinopse: Uma pessoa esconde muitos segredos... E Lua sabe muito bem disto, pois esconde até seu nome das pessoas da Vila do Ipê-Amarelo. O que ela não esperava é que muitas coisas podem mudar após uma noite de outono.


Tomei um gole do meu champagne, observando a noite desta cidade interiorana. A janela da sala de meu apartamento fica no quinto andar do prédio e de frente à praça principal da cidade, então é possível ver o movimento das pessoas. Engraçado que, em todos estes anos, morei em vários lugares e em diferentes épocas, mas nada é como a Vila do Ipê-Amarelo.


Ignoro meus longos cabelos descoloridos no reflexo, bem como a minha cara de poucos amigos e me concentro nas pessoas lá fora, detalhando seus semblantes e montando histórias em minha cabeça sobre o passado de cada uma.


Não sei dizer se é a atmosfera acolhedora, se é o ar de mistério que a cidade tem, as pessoas que tem muitos segredos atiçando a curiosidade de todos ou simplesmente o fato de que você encontra bebida barata aqui.


Hoje é um dia de outono, então as árvores não estão muito floridas e o clima mais ameno faz com que as pessoas saiam com seus casacos mais aconchegantes. Nunca tive muito problema com frio e muito menos com calor, mas a questão de adaptação com seres humanos vivos depende de observar o clima todas as manhãs para saber o que vestir.


Um dos problemas de ter a audição mais apurada – mesmo conseguindo desligar temporariamente – é a quantidade de informações que você escuta. Como a cidade tem uma universidade, consigo ouvir jovens comentando sobre a prova que tiveram algumas horas antes de Cálculo Avançado. Também consigo ouvir crianças eufóricas, brincando umas com as outras e falando “você não me pega”. Homens e mulheres no bar localizado na esquina, celebrando o aniversário do chefe da empresa que acabou de pedir um Billecart-Salmon para a mesa. 


Então presto atenção em um casal de mãos dadas. Um policial alto, com cabelos castanhos curtos e cacheados, aproximadamente com 30 anos de idade e uma mulher, mais baixa que ele – mas ainda assim alta –, com grandes cabelos ruivos alaranjados e encaracolados. Eles estavam fazendo planos para o casamento, já que a mulher descobriu que estava grávida recentemente e eles estavam ansiosos para ver a cara da criança nos próximos exames de imagem.


Tomei mais um gole, sentindo uma pontada em meu coração. Em uma época tive um namorado. A primeira pessoa que me fez querer desistir da imortalidade. Ele era investigador em Londres, assim como eu naquele momento. O nome dele era Aaron Brooke, tinha cabelos pretos que iam até o queixo. Seus olhos acinzentados escondiam muitos mistérios – e eu queria solucionar todos eles. 


E o que mais me encantava é que não era somente sua beleza física que me atraía. Sua inteligência, seu carisma e charme naturais me deixavam cada vez mais acolhida, o que me deixava cada vez mais interessada nele. Já ele amava a forma de como eu tinha várias camadas e sempre que ele descobria uma nova Clarisse Moss – nome que escolhi naquela época – via o brilho em seus belos olhos ficar mais intenso.


Fui tomar mais um gole, porém constatei que a taça estava vazia. Enfim, que se dane a taça. Deixei-a na minha mesa de centro triangular, feita com carvalho escuro reforçado e peguei a garrafa do meu Dom Perignon e tomei um gole longo direto da boca. Uma bebida extremamente cara que com certeza absoluta não deveria ser bebida desta forma, mas o momento merece. Lembrar de Aaron é doloroso, principalmente porque não pude me despedir dele. Ele morreu em uma investigação que deu errado e tomou muitos tiros, resultando em um caixão fechado.


Eu o conheci em 1980 e ficamos juntos até 1982, quando ele faleceu. O mais doloroso foi limpar as coisas em nosso apartamento e descobrir que ele iria me pedir em casamento ao encontrar a aliança no terno que ele sempre usava. Infelizmente acabei perdendo o anel ao sair do apartamento, mas mantive seu terno ao meu lado por cinco anos, quando resolvi sair de Londres e tentar uma vida nova em Melbourne.


A vantagem de ser uma vampira que ganhou a vida aplicando golpes em homens muito ricos de 1800 até 1970 tem suas vantagens financeiras. E quando a vampira tem o poder de criar ilusões para confundir a mente de mais pessoas para que consigam até esquecer dela, a brincadeira chega a ficar até sem graça.


Ri com meus pensamentos. Depois de uns anos, você começa a brincar com os humanos, criando várias personalidades e atuando com elas, apenas por diversão. Desde aquela época até hoje, tive muitos nomes – Dorothy Roberts, Karin Spencer, Liberty Summers, Clarisse Moss e muitos outros – além do que estou usando atualmente, Karina, ou, como me apelidaram, “Nina”, Vanderbloom. Cada nome tinha uma personalidade e uma nacionalidade diferente. Dessas que citei, Dorothy era a bombeira canadense forte, que não aceitava ouvir um “não”; a francesa Karin era uma mulher de negócios que conseguia levantar uma empresa de sucesso do absoluto zero; já Liberty foi uma das que mais fui sem criatividade em sua personalidade, pois era uma estadunidense nascida no dia 4 de julho. Doce e amigável, era uma verdadeira princesa de contos de fada, a típica garota americana.


Clarisse foi a que mais sofreu alterações em sua criação. Tive que passar muito tempo em Londres para adquirir o sotaque da investigadora que sabe atirar como ninguém. Por mais que eu saiba atirar muito bem – treino com arco e flecha desde antes da imortalidade –, não consegui adquirir o sotaque britânico, mantendo o sotaque do interior da Europa. A personalidade dela é muito parecida com a de Karina, só mudou realmente o nome.


Já Karina... Ela começou a ser formada quando eu saí do Brasil pela primeira vez roubando um barco – e matando os piratas que estavam nele – e parei na Itália com minha mãe e meus irmãos. Felizmente o timoneiro era o meu melhor amigo que trabalhava em uma família de navegantes, então ele sabia muito bem o que estava fazendo com aquele barco. A única diferença entre mim, Nina e Clarisse é a intensidade. Nina e Clarisse não demonstram fraquezas, são feiras de aço. Nada consegue as atingir, pois elas permanecem impassíveis.


Já Lua... Ela chora no banho para esconder a fraqueza. Clarisse chorou apenas no velório de Aaron. Já Lua chorou por duas semanas e demorou mais de um ano para superar. 


– Lua. – Ouvi uma voz familiar me chamando. Apenas uma pessoa sabe o meu verdadeiro nome – Você está bem?


Meu irmão faleceu anos após desembarcarmos na Itália por problemas de saúde e, graças a minha árvore genealógica extremamente complexa, ele aparece para mim, como se fosse o grilo falante do Pinóquio. 


– Só estou pensando um pouco em tudo e em nada ao mesmo tempo, Sol. – Respondi, olhando para o espectro do meu irmão – Você sabe que eu fico pensativa e quieta, principalmente com álcool puro.


– É estranho te ver relaxada assim. Fazem o quê, cem anos que você fica tranquila assim?


– A imortalidade fez isso comigo. – Ri de forma sem graça – E eu sei que agora está calmo para acontecer alguma coisa daqui a pouco. Muito provavelmente eu já chamei a atenção de vampiros que não gostam de mim e estão apenas esperando o momento certo para me atacar.

"Você vai virar um texto", pensei quando ele me chamou para sair em uma segunda-feira. Sempre foi assim e, muito provavelmente, sempre será assim. Eu começo a me envolver com alguém e, na hora que eu paro para pensar, ferrou: a pessoa vira um texto. Um texto que, muito provavelmente, nunca vai ser lido. Um texto que vai ficar para sempre na memória. Mas posso te dizer uma coisa? Não queira que você fosse só um texto. Queira que você fosse alguém marcante. Alguém que me faça escrever mais e mais textos, só que para você ler.


Imagem: Tumblr

Texto original escrito dia 04 de março de 2015

Sinto saudades de ver algum filme com você. De passar horas jogando e conversando sobre várias coisas que aconteceram no dia. De sentir seu carinho. De desabafar contigo. De ficar rindo por horas e horas. Da sua risada. Da sua voz.

Espero que você sinta minha falta também. Saudades das minhas piadas ruins e das minhas cantadas piores ainda. De como eu não sei jogar e acabo falando algo engraçado pra quebrar o clima. Da minha risada. Da minha voz.

Mas não quero ser a primeira a mandar mensagem. Já fiz este papel e só me senti deixada de lado. Afinal, eu mereço mais do que três palavras em resposta ou respostas "apenas para não ser irritado". Talvez algum dia você mande mensagem e me conte mais sobre você, sobre seu passado. Talvez um dia você não tenha medo de se abrir para as pessoas. Ou talvez isso nunca aconteça. Talvez cada um siga a sua vida no seu canto, fingindo que estes quatro meses não foram nada.

E eu espero que você se lembre de mim quando ouvir algo sobre Natal. Quando alguém começar a falar de chá, de dança ou de pole dance. Lembre de mim quando falarem sobre cantadas ruins, coxinhas ou computadores velhos. E, se lembrar, mande uma mensagem. Afinal, lembrei de você durante todo este texto.

Imagem: WiffleGif

Texto original escrito dia 08 de fevereiro de 2022 às 13h04

 Lembro daquele dia, do nosso primeiro encontro. Nós dois estávamos indo ver um filme perto do dia dos namorados. Eu já estava extremamente atrasada por causa do trânsito de Belo Horizonte e, felizmente, você não me deixou plantada lá no cinema. Após um tempo, finalmente nos encontramos e fomos assistir a um filme. Como os ingressos para outros filmes estavam esgotados, acabamos por indo assistir um filme de romance bem meloso quando nós dois queríamos ver um filme de ação. Não foi o melhor encontro, mas foi melhor que o meu primeiro. Até me lembro de ter te roubado um beijo depois do filme e não deu em nada no final. 

Você não ligou no dia seguinte. Não mandou mensagem. E nem no próximo. No terceiro, enviei uma mensagem que nunca foi respondida. Você simplesmente sumiu.

E não me pergunte o motivo que eu estou escrevendo este texto para você depois de quase quatro anos disso. Eu realmente não sei. Talvez o fato de você não ter nem se despedido ou me olhado surpreso quando te beijei mexeram comigo de alguma forma. Talvez fosse a primeira vez que não criei tantas expectativas com alguém. Talvez seja o fato de que eu tive a atitude de te beijar. Talvez seja por tudo isso que o encontro com você mexe comigo até hoje.

E, caso você esteja lendo, obrigada. Obrigada por não ter ligado no dia seguinte.

Se você tivesse ligado, talvez esse texto nunca existiria.

Imagem: Tumblr

Texto original escrito dia 16 de maio de 2020 às 17h59

Estou aqui. Desta vez sem band aids, sem ataduras e com todas minhas feridas e cicatrizes expostas. Você disse que queria conhecer a história de cada uma das minhas lutas e descobrir mais sobre mim. Confesso que fiquei surpresa quando me disse isso. As pessoas geralmente não ligam para lutas ou batalhas, querem apenas ver o bonito já curado. Não querem ver as crises que passamos. Não querem ouvir sobre o passado. Mas você foi diferente. Quis conhecer a história de cada cicatriz e quando eu termino a falar de uma, você a beija. Acho que precisava de um amor assim. Um amor que cuide e ajude a melhorar. Um amor que todos precisamos.


Imagem: Tumblr

Texto original publicado pela primeira vez dia 23 de janeiro de 2017