Segredos da Lua, parte III

 


Olhei para o espelho que ficava do outro lado, perto da porta. Meus cabelos loiros extremamente claros por conta da descoloração e lisos – danos emocionais conseguem machucar até vampiros – estavam um pouco abaixo dos meus seios, meus olhos azuis – obrigada disfarce – estavam normais, sem sinais de cansaço ou olheira. Já meu vestido preto estava em ordem, como se eu tivesse passado ele hoje de manhã. Só vesti ele pois estava incerta se iria comprar mais bebida no bar do Jaiminho – um vampiro que resolveu ficar na paz nesta cidade.

– Estou bonita para cometer um assassinato? – Sussurrei e meu irmão riu.

– Espero que você consiga descobrir alguma coisa.

Mesmo que no histórico da família eu sempre fosse a melhor em luta e em combate, é natural que os irmãos se preocupem uns com os outros. Sorri quando ele desaparecer e caminhei até a porta quando a campainha tocou.

Abri a porta com a maior naturalidade segurando minha taça de vinho e encarei os dois homens. Um deles era mais velho, com a barba por fazer e traços marcantes. Sua camisa vermelha destacava em sua pele negra e em sua barba por fazer. Sua postura me aparentou confiança, o que me fez suspeitar que ele foi transformado cerca de um ano atrás.

Já o outro jovem parecia um calouro que encontrei uma vez quando fiz faculdade de Direito – roupa social, cabelos loiros repletos de gel e extremamente nervoso. 

– Não sabia que eu teria companhia para um vinho. – Disse com um ar de inocência – Quem são vocês?

– Eu sou Estevão e este é Ric.... – O mais novo se apressou enquanto o mais velho o empurrou para trás.

– Você é Karina Vanderbloom? – Ele respondeu.

– Perguntei primeiro. – Rebati.

Dei um passo para dentro. A regra de não entrar sem ser convidado é bem clara, mesmo que alguns vampiros tenham a capacidade de burlar a regra com seus poderes.

Enquanto os dois discutiam, fui mais rápida. Utilizei minha velocidade para retirar a faca da mesa e cortei a garganta do homem mais velho. Se tem alguém que vai falar é Estevão, já que ele deixou escapar os nomes.

O corpo do mais velho caiu, fazendo um barulho pequeno. Utilizei meus poderes para projetar uma névoa, evitando que as outras pessoas não ouvissem nada, não entrassem no prédio ou saíssem de seus apartamentos.

– Escute Estevão. – Falei, colocando-o contra a parede e pressionando a faca em seu coração – Posso fazer isso do jeito mais lento ou do mais rápido, como foi com seu amigo. Quem te mandou aqui? Onde ela está?

– Eu não vou falar. – Ele disse e eu coloquei a faca em seu coração, fazendo-o gritar de dor enquanto, com a outra mão, tomava o vinho da minha taça em apenas um gole – Ela disse que você era fraca.

– Eu consegui matar mais de cinquenta piratas em um navio no meio de uma tempestade quando era humana. – Respondi, olhando em seus olhos castanhos e girando a faca – Eu pareço fraca para você?

– N-N-Não, senhora. – A voz dele falhou – O nome dela é Anne. Ela está em Paris agora.

– Vocês saíram da França para uma cidade no interior do Brasil para me matar? Ou melhor, tentar me matar? – Esbravejei.

– Somos de Portugal. – Ele explicou – Ela nos prometeu novos empregos e nos transformou. Não fomos treinados.

Era só o que me faltava. Além de mandar novatos, ela nem se deu ao trabalho de treinar novatos.

Minha reputação está tão ruim assim?

Retirei a faca do coração de Estevão e cortei seu pescoço rapidamente, de tamanha raiva que eu estava sentindo. Não estou há mais de 300 anos sendo uma das vampiras originais mais poderosas para ser tratada assim.

Voltei para o apartamento, deixando a faca e a taça na mesa. Em seguida, peguei os dois corpos e corri para a mata densa, deixando os corpos lá. Voltei para o meu apartamento e peguei álcool. 

Hora de esconder evidências.

Observei os corpos no chão e derramei todo o conteúdo do álcool neles, para que o fogo se espalhe mais rápido. Ouvi o barulho de um telefone no bolso de Estevão, que me chamou atenção e peguei o aparelho. No visor estava escrito “Chefe”.

– E aí, vocês a mataram? – A voz da mulher era estranhamente familiar. Ela estava impaciente, como se quisesse ouvir a “boa notícia” em alguns minutos – Vamos, eu não tenho o dia todo.

– Infelizmente eles não podem atender. – Respondi, suavemente enquanto pegava o meu isqueiro em meu sutiã – Aconteceu uma coisa muito trágica com eles, Anne. Sim, eu sei o seu nome. – Acendi a chama próximo ao telefone, para que ela ouvisse.

– Você os matou? Como? – Ela perguntou, como se fosse impossível.

– Você deve ser nova nessa coisa de vampiros, então deixa eu te explicar. – Joguei o isqueiro nos corpos e os observei queimar – Mandar dois novatos para matar uma vampira original é uma ofensa. Você realmente achou que dois caras que não sabem nem como usar seus poderes iam conseguir me matar? Eu, que sei boa parte das lutas do mundo todo e aprendi a lidar com meus poderes faz mais de 300 anos? Realmente, acho que minha reputação vai mal para as pessoas tirarem essas conclusões. – Ri com a situação – Da próxima vez venha você fazer o seu trabalho, que talvez a situação seja diferente. Eu acredito que não, mas pelo menos podemos tomar um vinho antes de você morrer. Au revoir, mademoiselle Anne.

Desliguei o telefone e o destrocei com minha mão, antes de jogá-lo no fogo.

Olhei para cima, observando a densidão da floresta. Se a minha intuição estiver certa, este foi só o começo.

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